De uma coisa tenho certeza: irei envelhecer. Os belos e sedosos cabelos perderão o brilho, a pele rosada e macia perderá o viço. Ganharei com o passar do tempo cabelos brancos e rugas em meu rosto, talvez minha estatura diminua um pouco, ou não. Sei que posso fazer de tudo, malhar – dizem que músculo é vida -, usar 101 tipos de cremes, tinturas para o fio, algum tipo novo de preenchimento facial, mas a verdade é: irei, ou melhor, a cada dia que acordo é um bom dia a uma nova eu um pouco mais velha.

Achava que envelhecer, ganhar idade, seria algo chato e pesado, vamos lá tudo bem, já sou quase integrante do time das balzaquianas, nem é tão grave assim, mas confesso que as rugas e os cabelos brancos já estão passeando por aqui.  E o que fazer? Entrar em choque? Não.

Sempre ouvi minha mãe dizer que temos que envelhecer com dignidade, ouvi também que devemos sempre aceitar quem somos e como somos, por sorte nunca tive nenhum grande complexo com a minha aparência, e sou completamente a favor de pessoas que sofrem e tem problemas de se relacionar com o mundo por algum problema estético, no caso de pouco seio, ou muito, nariz grande, orelhas de abano, essas coisas, façam as devidas correções. Na adolescência convivi com pessoas que tinham esses complexos e se libertaram para o mundo depois de resolvido esses episódios.

O que vem me incomodando há tempos são as jovens senhoras, sim, porque para mim a idade é apenas um número no documento, mas que deve ser respeitado. Muitas dessas mulheres estão se esquecendo que a nova idade trás um corpo e uma face nova, e ai começam alguns absurdos. É puxa daqui, é estica dali e quando a pessoa se vê no espelho não se reconhece. Nem as pessoas com quem ela convivem a reconhecem.

Essa busca incansável pela beleza extrema imposta pela sociedade e a própria indústria tem deixado as mulheres cada vez mais angustiadas. O medo de envelhecer, mostrar uma ruga, uma celulite, um fio de cabelo branco parece um fantasma que assombra a todas nós.

Sinto informar-lhes, mas beleza perfeita universal não existe. O que existe é photoshop, ângulo, luz, ótimo fotógrafo, programas de computador, filtros e várias outras coisas que foge ao nosso conhecimento.

Não estou aqui para condenar ninguém e tão menos dizer o que é certo ou errado, só quero que juntos possamos refletir sobre essa busca incansável pela perfeição que angustia tanto as pessoas, e tenho sentido isso principalmente em pessoas de mais idade.

Conheço senhoras que tem netos e não gostam de serem chamadas de avó, conheço também as que querem se vestir iguais as filhas de 20 ou 25 anos.

Acho que com a mesma sutileza que algumas mulheres aplicam botox que acabamos nunca percebendo, também deve-se descer a barra da saia a cada primavera completada. Não uso as mesmas roupas de 10 anos atrás, não faz mais sentido na vida que levo. Da mesma forma não faz sentido uma senhora de 60 anos querer usar as roupas que usava quando tinha 30 anos.

Ah, mas devem estar se perguntando? Você não acha que pessoas mais velhas não podem se sentir bonitas, se arrumar etc etc etc. Minha resposta: elas não podem, elas devem e sempre, todos os dias estarem arrumadas e lindas, pois se arrumar e cuidar faz bem para o ego, eleva a alto estima, melhora o humor. O que quero dizer é que você, eu, sua mãe, avó, vizinha, nos arrumemos para nós, e somente para nós. Não porque saiu na revista, ou porque a famosa tal usou, ou porque esta todo mundo fazendo. Quer usar botox para amenizar sinais, use, mas não se descaracterize, se olhe no espelho e ainda seja você. Para que quando seus netos olharem seu álbum de casamento possam te reconhecer.

A nossa beleza sempre estará além da nossa aparência. Ela é o que somos, o que fazemos, o que plantamos e planejamos em nossas vidas.

Sinto que esse abuso que algumas pessoas cometem com procedimentos estéticos, roupas que não combinam com os corpos, idade e situação se devem única e exclusivamente a esse mundo doido de celebridades, um exemplo é a Madona que tem seus cinquenta e poucos anos e quer parecer cada vez mais jovem, parece que não se permite envelhecer.

Indo por esse caminho algumas pessoas acham que fazer igual a ela vai dar certo, gente sinto muito, mas não vai, não está bonito nem nela. Tudo é uma questão de auto aceitação, e isso pode ser trabalhando diariamente dentro do nosso guarda roupa, olhando para o nosso corpo e vendo exatamente o que nos favorece, saber que imagem estamos passando com a roupa, ou a qual queremos passar. Se não estamos satisfeitos com alguma parte que está mais saliente vamos achar uma forma mais saudável de resolver, não é vergonha nenhuma usar uma calcinha de cós mais alto para esconder a barriguinha, ou um sutiã com mais sustentação, pois os seios já não estão mais firmes, feio para mim é você querer parecer uma barbie de seios e nádegas duras, mas com a pele das mãos e dos pés enrugadas, porque com essas ai minha gente, ainda não tem tratamento que dê jeito 100%, essas duas partes entregam a idade sem dó.

Se você se conhece e sabe o que te favorece não tem erro. A idade virá e você fará o que for preciso para se sentir bem sem exageros ou afobações, colocará botox, e ninguém vai saber, fará lipoaspiração, e ninguém vai nem se quer prestar atenção. Agora quando você não está resolvida consigo mesma, essa historia toda não precisa da desculpa da idade, ela chega antes, e as intervenções também. Esse processo todo é bem mais psicológico do que prático.

Como consultora de imagem e orientadora de estilo posso afirmar que passar por um processo de análise desses ajuda e muito a se conhecer e compreender o que melhor funciona. E isso pode ser feito em qualquer idade. Mas creio que para uma pessoa que ainda não tenha se encontrado ou se entendido seja um bom caminho. Conhecer a nossa imagem é fundamental para que possamos viver bem e feliz, e conseguir medir o que vai ser melhor para a gente sempre. Mas digo e repito, nada melhor do que o amor próprio e a auto aceitação para uma vida plena. Todos somos capazes de saber e perceber os limites entre o que é bonito e feio, na medida ou exagero. Cabe a cada um o bom senso e a auto avaliação.

“Qualquer idiota consegue ser jovem. É preciso muito talento para envelhecer” Millôr Fernandes.