Era começo de 2016, me encontrava bem desanimada com o cenário da minha empresa, confesso que não estava entusiasmada com meu trabalho. Na época não sabia se era o público, se era eu ou a profissão, não estava feliz e engajada com o trabalho.

Em março desse mesmo ano fiquei grávida, afinal, esse era o plano.

Descobri muito cedo a gestação (2 semanas), o que me permitiu muito mais cuidado. Quando completei 4 semanas tive sangramento e o pavor de algo ruim ter acontecido, atropelou meu cérebro. Fui ao hospital e estava tudo bem, sai da consulta com recomendação para fazer repouso.

O que achei que seriam alguns dias foram se transformando em semanas e depois meses (quase 4 no total), o sangramento não parava, mas a cada ida ao hospital constatava que estava tudo bem com a minha filha, saia de lá com a mesma recomendação: repouso, repouso e repouso. Repouso de tudo, até para o banho tinha ajuda, pois deveria fazer o mínimo esforço. Nessa altura nem pensava mais em trabalho. Já tinha dado por mim mesma como algo a se pensar depois que a Chloe tivesse uns 2 ou 3 anos, o que me abriu a esperança de até mesmo fazer outra formação.

Mas a vida é a coisa mais instável que eu conheço, descobri que planos servem apenas para acalmar o coração, porque as chances de não se concretizarem existem na mesma proporção de concretizar, e foi quando nas 15 semanas – vou resumir o resumo ok, porque é uma longa historia que não cabe aqui – descobri que minha filha não tinha mais batimentos cardíacos (não consigo usar a outra palavra – sorry).

Eis que vive a maior dor da minha vida, mas também foi o caminhar mais lindo que já percorri. Olha o paradoxo.

Durante o período mais tenso do luto – não acredito que ele acabe, acredito que muda de figura-, eu mergulhei muito fundo em mim, me fiz questionamentos dos mais variados. Questionei muito se era feliz com a vida que vivia? Inclusive questionava porque tinha engravidado de uma menina, já que meu maior sonho era um menino.

Foi aí, no meio de tanto choro, busca interna, desconstruções do meu eu que percebi muita fragilidade mas também muita força e coragem.

Tive o acolhimento de uma prima, nem sei mensurar, sabe aquelas pessoas que aparecem do nada e aí você descobre que é o anjo que Deus mandou para segurar seu coração, então, ela me ajudou a desvendar muitas dessas questões, uma delas me levou a fazer as pazes com meu feminino, com minha mulher. Nesse momento comecei a entender tudo, principalmente o desgosto com meu trabalho.

O que estava pegando é que meu inconsciente já não estava mais de acordo com a consultoria de imagem como aprendi na formação que tive. O método que conheci era todo baseado no método desenvolvido lá em 1970, onde uma pessoa (consultora) dizia a outra (cliente) o que ela PODIA e NÃO PODIA usar, sabe aquela coisa de se você tem quadril largo não pode usar listra horizontal nessa região?!?!?! Então, era isso. Tinha todo um julgamento por trás, bem como todo um padrão a ser seguido que faria a cliente estar bem vestida – que preguiça disso.

Acontece que nesse meu reencontro comigo, descobri que sou muito além do que visto, e que isso não é exclusividade, minha todo mundo é além da aparência, o que também criou um conflito ainda maior com meu trabalho.

Junto com esse movimento interno todo, estava mega envolvida com o feminismo, estudando, entendo as vertentes que tem e principalmente o que propõem, sabe uma das coisas que ele propõem que muita gente ainda não entendeu?!?!? É que a MULHERES MERECEM RESPEITO, mas não SÓ o respeito de com licença e obrigada ou de não ser agredida – é obvio que precisamos de muitos pontos a serem respeitados -, mas o que me faz refletir bastante em meio a essa sociedade de consumo louco, é que precisamos ser respeitadas como somos, com o corpo que temos, com a forma que nosso cabelo tem, do contorno que nossa boca faz, das curvas salientes que temos. Porque não tem mais bonita por conta disso ou daquilo, todas são bonitas por conta das particularidades, se fossemos todas iguais seriamos meros robôs sem vida e expressão.

O que quero dizer com isso? que nós devemos ser respeitadas como somos e como queremos ser, por exemplo, se você se sente sexy, mas tem um corpo voluptuoso e quer vestir um vestido justo com super decote, vai lá amiga, usa, se isso te representa, te deixa confortável e feliz o que está esperando? Falar é fácil, e é ai que o bicho pega.

Acontece que não é assim, porque tem uma revista que disse que não pode, aí tem a foto na rede social da menina magrela afirmando que só aquele corpo pode, e tem aquela outra mulher ali que nem te conhece com aquele olhar julgador, imagina o que acontece nesse cenário todo??Insegurança, baixa autoestima e tristeza, e se por ventura acaba pondo a roupa não se sente confortável acreditando que não é boita e que realmente não tem corpo bom para quela roupa (essa questão rende video no canal, aguarde).

Foi no meio dessa filosofia toda aí que percebi o poder que eu tinha nas mãos com meu trabalho. Não da maneira como aprendi, mas da forma que comecei a desenvolver os projetos desde o início do ano.

Passei a ler muito sobre psicologia, psicologia da imagem, a aprender mais sobre o feminino e nossa força, estudei sobre empoderamento feminino e com isso entendi a escuta sensível e respeitosa, meu processo de luto me fez empática e com tudo isso passei a ler as entre linhas dos discursos das minhas clientes, desenvolvi uma análise que permite entender quem é essa mulher lá na essência, quem ela tem vontade de ser e quais as inseguranças que a impedem de alcançar essa mulher. Então utilizo das teorias da consultoria para criar junto com essa mulher a real imagem dela mesma. Eu não imponho nada, não decido nada, apenas oriento, mostro o caminho, ensino sobre o que as cores representam, as mensagens que as roupas passam, o que as formas comunicam e dentro disso tudo eu vejo mulheres se redescobrindo, tomando posse das escolhas de compras, olhando para o corpo com outros olhos, porque aqui ninguém é pera ou retângulo, aqui é proporção e equilíbrio, esse equilíbrio só rola se a cliente quer, sabe porque, porque eu não posso querer por ela. Eu oriento e ela cria para si a para o mundo sua melhor versão.

Hoje eu tenho um tesão imenso pelo que faço, ser consultora de imagem não é glamour como pensam, é estudo diário, cada cliente é um estudo diferente, porque a demanda é diferente, o corpo pode ser semelhante de uma outra, mas mesmo assim os desejos e anseios são outros.

Chegar ao fim de um projeto e ver que conseguir devolver autonomia, confiança e amor próprio para minha cliente não tem preço. É imensurável o que eu sinto. É aí que tenho certeza do meu propósito de vida. Ajudar uma irmã a voltar se amar, se gostar e se valorizar me põem nas nuvens. Essas descobertas todas só foram possíveis por conta das experiencias que eu vivi. Elas me fizeram sensível, respeitosa e acima de tudo mais humana ao lidar com outra alma.

Eu agradeço, pois foi assim que abri meus olhos para tudo isso e despertei meu coração para amar e querer ajudar outras mulheres que vivem essa repressão com a aparência. E sim, usei todo o processo em mim mesma!

Hoje eu digo que a consultoria de imagem é um caminho de reencontro consigo no qual a moda se torna um meio de expressão, não um padrão ou uma imposição, e sim uma escolha, é poder representar quem se é através da roupa.