POW! Explosão Criativa – começou o São Paulo Fashion Week -, com esse tema de pano de fundo dá para imaginar a vibe por trás da exposição que enfeita a Bienal e que se torna palco para cerca de 28 desfiles e diversos outros eventos.

Está mais do que na hora entendermos que nossa sociedade mudou, com isso muda tudo ao seu redor, essa exposição de Corado Segreto traz essa percepção, um resgate da alma e da essência em tempos tão frenéticos onde tudo se torna obsoleto rapidamente. Uma reflexão que vale para todos os âmbitos da vida.

Mas o que quero falar aqui hoje é sobre o desfile que aconteceu no sábado, dia 21, que me chamou muito atenção. Precisamos entender, que já tem um século que moda deixou de ser e pertencer à uma exclusiva classe social. A moda hoje é de todos e para todos. Quando entendemos que moda é uma expressão da sociedade tudo passa a fazer sentido.

O projeto Ponto Firme, é sobre ele que quero falar, pois tem um cunho social e inclusivo muito importante para nossa sociedade, que no meu ver serve de ótimo exemplo para grandes empresas que estão repensando sobre como fazer moda de maneira mais sustentável e assim promover mais oportunidade de trabalho.

No primeiro dia de desfiles, o Projeto Ponto Firme encerrou o dia ao apresentar uma coleção com diversas peças de crochê feitas por 20 presidiários da penitenciária Adriano Marrey em Guarulhos, todos eles tem diminuição da pena por horas trabalhadas dentro do projeto e essa também é uma forma de ensinar e oferecer um ofício para aqueles que ao retornarem para o mercado de trabalho já serão excluídos.

O projeto existe há dois anos e é comandado voluntariamente pelo estilista Gustavo Silvestre. O desfile surgiu diretamente do interesse dos próprios presidiários, a partir daí evoluíram da confecção de jogos americanos para peças de roupas graças as miudagens que aprenderam com Gustavo e das orientações que artista plástica e estilista Karlla Girotto passou para eles em um workshop sobre como criar um desfile. A partir daí tudo foi construído única e exclusivamente sobre a ótica do grupo. Um desfile é uma narrativa, ele conta um história e foi isso que fizeram, contaram sobre o mundo que vivem através de lindas produções.

Eu achei incrível essa iniciativa, por isso resolvi começar os comentários por esse desfile. Muito tem se falado de sustentabilidade, responsabilidade com a produção na cadeia téxtil, valorização do trabalho manual e regional, comprar de produtores locais, etc, e essa coleção trás isso. Criar esse tipo de oportunidade comunica direto com esses discursos todo.

A coleção apresentada conversa diretamente com o cotidiano de quem vive no presídio cada um ali colocou em forma de roupa um pouco do seu ponto de vista. Tem desde camisetas com mensagem “Deus é Fiel” a vestido midi de crochê, tem roupa inspirada nos uniformes usados na penitenciária, tem modelagens amplas e austeras, gorros, bonés.

Ao meu ver as roupas são super usáveis, representam nosso Brasil. As roupas ora são fluídas ora justas. Tem muita cor, como amarelo, azul turquesa, vermelho branco e preto, muito mistura de elementos e de textura.

Ah, antes que me esqueça o casting foi formado por diversas pessoas do convívio dos presidiários, ninguém ali era um modelo profissional contratado, foi totalmente colaborativo.

Eu gostei, tem representatividade, é fácil de trazer para vida real, e sinto que conversa bem com o estilo Brasileiro…

Confira aqui algumas imagens do desfiles – as fotos são do site ffwuol.com.br pelo fotografo Zé Takahashi – ag: FOTOSITE

E para quem quiser ver mais detalhes sobre esse projeto confira esses dois videos no youtube aqui , aqui e aqui.

Espero que tenham gostado…

Até a próxima…

Bejokas

Jack Brossi